// A GRANDE ILUSÃO (de Sofia Dinger) |

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Em 2014, colaborei durante dois meses com a actriz Sofia Dinger, para a sua peça “A Grande Ilusão”. Uma semana antes da data de estreia no Teatro Maria Matos, Sofia Dinger cancelou a apresentação da peça. No processo, em que se estabeleceu um diálogo com a obra escrita e filmada de Jean Renoir, foram testadas 5 versões. A partir deste fracasso, tentarei abordar a “maldição” dos trabalhos que não se deixam fazer, procurando também explorar o que é isso de um trabalho “acabado” e o que é isso de um trabalho “inacabado”, no contexto bem subjectivo da produção artística. A “questão do prazo”, dos “custos de produção”, dos “valores de classe” e do “factor x” ajudar-me-ão certamente a ser entendido... |
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// A ROSA E O SINO |
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Em “A Rosa de Paracelso”, pequeno conto da velhice de Jorge Luís Borges, as preces do grande mestre alquímico são escutadas, e ele é visitado por um estranho que se oferece para tornar-se seu aprendiz. Mas o pretendente exige uma prova de que Paracelso é um verdadeiro mestre e Paracelso exige-lhe o caminho da fé. Uma rosa é atirada ao fogo. Se Paracelso fizer ressurgir a rosa das cinzas, é porque os seus conhecimentos são verdadeiros. Mas se levar a demonstração avante confirma-se que o discípulo não é merecedor dos seus conhecimentos e Paracelso hesita em abrir a mão que contém as cinzas ou a rosa.
No último episódio do filme Andrei Rubliov, de A. Tarkovsky, o jovem Andriocha, filho de um mestre sineiro, convence um cliente que o seu pai lhe ensinou o ofício de construir sinos antes de morrer. O sino é construído com grande sucesso, mas no final ficamos a saber que o pai de Andriocha nunca lhe ensinou o segredo de construir sinos.
A partir destas duas histórias sobre a fé, pretendo explorar o mistério do conhecimento, da experiência, e de como resolver problemas para os quais se desconhecem soluções. |
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// CONQUISTA DE CEUTA |
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Para financiar os meus estudos, nos anos 80, ainda com as fronteiras a separarem os países europeus, a minha mãe, operária, começou a fazer viagens de negócios a Ceuta, fazendo contrabando de produtos que comprava no norte de África para depois vender às colegas em Portugal. A partir do relato de algumas das aventuras que partilhei com ela, “A conquista de Ceuta”, é também um regresso à História de Portugal, com o início da expansão marítima (iniciada exactamente em Ceuta), quando Portugal deixou de ser uma pequena nação e começou a descobrir novos horizontes fora da Europa. |
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// A DÍVIDA FAMILIAR |
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Em 2003, descobri uma fotografia de um filho no momento do seu pai ser enterrado, na sequência de um terramoto. Essa fotografia deu origem à escrita de um romance que não cheguei a acabar, “A dívida”. Esse romance resultou de uma negociação com o meu pai: ele deixar-me ficar na casa da minha avó paterna até eu acabar de escrevê-lo. Onze anos depois, o objectivo desta apresentação é contar, à frente do público, a verdadeira história desse romance, que é também a história de uma dívida para com a minha família, pela forma como apoiaram a minha actividade artística. Esse romance é também a história de uma geração que vive ainda dependente financeiramente da família; do seu modo de vida sem correspondência com o mercado de trabalho. É ainda a história de uma geração que tarda em confrontar-se com a realidade, em comparação com as suas expectativas e os objectivos que definiu para si. |
Fotos de Patrícia Almeida |
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